Doar sangue salva-vidas!
Todos os anos, a 24 de Junho, comemora-se o dia Mundial do Doador de sangue. Este ano, o tema é “20 anos a celebrar a dádiva: obrigado, dadores de sangue!”. O 20º aniversário do Dia Mundial do Doador de Sangue é uma excelente ocasião para agradecer aos doadores de sangue de todo o mundo por suas doações que salvaram vidas ao longo destes anos, rever a situação das transfusões e do acesso as mesmas a nível do mundo, considerando a realidade dos países e da sua população.
As transfusões sanguíneas são importantes, contribuem na diminuição da mortalidade infantil e materna; melhoria drástica da esperança de vida e da qualidade de vida dos pacientes que sofrem de doenças hereditárias potencialmente fatais, como a hemofilia e a talassemia; e de doenças adquiridas, como o cancro e a hemorragia traumática; bem como no apoio dos procedimentos médicos e cirúrgicos complexos, incluindo transplantes.
Em países de alta renda, a transfusão é uma intervenção comumente realizada em cirurgia cardiovascular, cirurgia de transplante, grandes traumas e tratamento de tumores malignos sólidos e neoplasias sanguíneas. Em países de baixa e média renda, é mais frequentemente usada em casos de complicações da gravidez e anemia infantil grave. Por isso, nos países onde se regista penúria de sangue, as crianças e as gravidas são as mais afectadas, pois são as que mais dele necessitam.
Dados da OMS mostram que anualmente, no mundo inteiro, são feitas 118,5 milhões de doações de sangue, das quais 40% em países de renda alta, onde vivem 16% da população mundial. Nos países de baixa renda o número de doações é inferior a 5 por cada 1000 habitantes, nos países de renda média e média baixa é de 16,4 e 6,6, respectivamente por cada 1000 habitantes, enquanto nos países de renda alta é de 31,5 por cada 1000 habitantes. Estes dados, expõem uma diferença importante no acesso ao sangue e seus derivados, o que faz com que numerosos pacientes que têm necessidade de transfusão não tenham acesso a este produto.
A Resolução WHA63.12 da Assembleia Mundial da Saúde exorta os Estados-Membros a estabelecerem, implementarem e apoiarem programas de sangue e plasma sustentáveis, geridos de forma eficiente e coordenados a nível nacional, de acordo com a disponibilidade de recursos, a fim de alcançar a autossuficiência. É responsabilidade de cada governo garantir o fornecimento adequado e equitativo de derivados do plasma, como imunoglobulinas e fatores de coagulação, necessários para prevenir e tratar várias condições graves que ocorrem em todas as regiões do mundo.
Para garantir o aprovisionamento de sangue, os países contam com três tipos de doadores de sangue: (i) voluntário e não renumerado; (ii) membros da família; e (iii) renumerados. Sendo que o aprovisionamento adequado e seguro de sangue é assegurado por doadores voluntários e não renumerados, porque neste grupo a prevalência das infecções transmissíveis pelo sangue é mais fraca. Assim sendo, neste Dia Mundial do Doador, é importante destacar o papel essencial dos doadores voluntários e não renumerado de sangue que garante o acesso universal deste produto e de seus derivados para todas as populações.
Em cada país, o aprovisionamento do sangue seguro e adequado deve fazer parte integrante da política nacional de cuidados de saúde, garantindo tal como a OMS recomenda, o uso seguro e racional do sangue para reduzir transfusões desnecessárias e inseguras, melhorando assim os resultados e a segurança dos pacientes e minimizando o risco de eventos adversos, incluindo erros, reações transfusionais e transmissão de infecções.
O risco de transmissão de infecções graves devido ao uso de sangue inseguro e a escassez crônica de sangue fez com que o mundo apercebesse da importância da disponibilidade e segurança do sangue. Por isso, a gestão do sangue é crucial para otimizar os resultados, garantir a segurança e transfusões apropriadas. A OMS apoia os países a criarem sistemas nacionais de transfusão para garantir o acesso rápido ao sangue e seus derivados seguros em quantidades suficientes, bem como a estabelecer boas práticas de transfusão sanguínea para atender às necessidades dos pacientes.
Assim sendo, a OMS exorta os Estados Membros a adoptarem estratégias integradas que incluem: a) Estabelecimento de um sistema nacional de sangue, com serviços transfusionais bem-organizados e coordenados; b) Colecta de sangue, plasma e outros hemoderivados de doadores em populações de baixo risco, regulares, voluntárias e não remuneradas; c) Triagem de todo o sangue doado para infecções transmissíveis por transfusão, como HIV, hepatites B e C e sífilis; d) Uso racional de sangue e hemoderivados para reduzir o número de transfusões desnecessárias e minimizar os riscos relacionados à transfusão; e a e) Implementação gradual de sistemas de qualidade eficazes.
Importa aqui destacar, a necessidade de assegurar como prática rotineira dos profissionais de saúde a realização de diagnóstico e correção de deficiência de ferro e anemia, consideração de alternativas à transfusão, uso de medicamentos e dispositivos para reduzir a necessidade de sangue, uso clínico adequado do sangue e manejo eficaz dos pacientes que precisam de transfusão.
O sangue salva-vidas e os doadores no seu conjunto e individualmente, prestam um grande serviço solidário às comunidades doando sangue. Salvar vidas deve ser uma missão de todos e com apoio de todos. Vamos todos doar sangue para que o seu acesso seja universal.
Dra Fernanda Alves, Chefe do Programa de Doenças Não Transmissíveis da OMS em Angola